A Traça Biblió e o Poeta Brincando com os versos de Quintana



Visita guiada na Casa de Cultura Mario Quintana
Agenda para escolas e outros grupos
Telefone: (51) 3311.6677 e 9964.5492
E-mail: dinorah@cpovo.net
Com Dinorah Araújo

 

O Projeto

É uma visita guiada pela atriz Dinorah Araújo, de forma lúdica, com a personagem Traça Biblió, protagonista do livro Uma Graça de Traça, de Carlos Urbim, que apresenta a Casa de Cultura Mario Quintana - CCMQ para estudantes. Busca abordar o universo infantil da obra do poeta, sem deixar de incluir aspectos alusivos à infância contidos nos livros para adultos, além de referências que traduzem o amor de Quintana por Porto Alegre, grande fonte de inspiração da sua produção literária.

Enquanto vai mostrando detalhes da Casa de Cultura como o aspecto arquitetônico e cultural, entre eles o quarto do poeta, Biblió vai dizendo poemas e textos de Quintana.

A obra e a vida do poeta alegretense são mescladas com a história do Hotel Majestic, fundado em 1923 e que se tornou na atual CCMQ, em 1990.

Os poemas e textos escolhidos para compor o roteiro integram as obras: Pé de Pilão, Lili Inventa o Mundo, Baú de Espantos, Sapo Amarelo, A Rua dos Cataventos, Canções, Sapato Florido, Espelho Mágico, Caderno H, Apontamentos de Histórias Sobrenatural, Esconderijos do Tempo, A Vaca e o Hipogrifo, O Batalhão das Letras e Sapato Furado.

 

Público-alvo

Destinado a estudantes do ensino fundamental de escolas da rede pública e particular de ensino, de 1ª. a 4ª. Séries, ONGs, Abrigos e outros projetos sociais da Capital e do Interior do RS, bem como para o público em geral, estudantes do grau médio e universitários, até de outros estados, já conheceram a Casa de Cultura conduzidos pela personagem Biblió.


Objetivos
O projeto tem como principal objetivo a difusão da obra e da memória do poeta Mario Quintana, do Hotel Majestic e da Casa de Cultura Mario Quintana para estudantes do ensino fundamental, de 1ª. à 4ª. Séries, de escolas públicas e privadas da rede municipal e estadual de ensino de Porto Alegre, Interior do RS e de outros estados, bem como para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Além disso, visa propiciar aos estudantes o acesso à Casa de Cultura Mario Quintana enquanto um bem patrimonial e suas possibilidades que a mesma oferece do ponto de vista de bens imateriais enquanto um dos centro culturais mais completos da América do Sul..


A leitura como referência e compreensão da realidade

Por ser uma traça singular, que ao invés de roer os livros se tornou guardiã da biblioteca infantil de uma velha escola, Biblió incentiva a leitura, que é um “tema transversal” a exemplo da poesia de Quintana. Ambas permeiam as diferentes áreas do conhecimento, possibilitando a referência e o olhar compreensivo na construção da própria realidade dos estudantes, independente da classe social na qual são desenvolvidas suas vivências nas comunidades das quais são oriundos, permeando questões urgentes e importantes como a ética, meio ambiente, saúde e trabalho, conduzindo para o resgate da cidadania e da autoestima, colaborando desta forma para a qualidade da construção do conhecimento nos mais variados setores da vida.

 

Histórico do projeto

Idealizado no verão de 2006 por Dinorah Araújo, que também assina a produção, vem sendo apresentado sistematicamente. Estreou no dia 5 de outubro de 2006 com a parceria da Casa de Cultura Mario Quintana, através do Núcleo de Literatura, integrou a programação intitulada: Aprendiz de Feiticeiro - 100 Anos de Mario Quintana.

O Projeto também integrou a programação da Semana Revisitando Quintana realizada em 2008.

Além das crianças, a traça Biblió já recebeu grupos formados por integrantes de todas as idades na Casa de Cultura Mario Quintana, por estudantes do ensino médio e de universidades, até de outros estados.

O projeto contabiliza 77 apresentações para 3.708 espectadores.


Duração: 90 minutos



Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!

Roteiro


1-Abertura - Travessa dos Cataventos


Com X se escreve XÍCARA

Com X se escreve XIXI

Não faças xixi na xícara...

O que irão dizer de ti?!




Apresentação Biblió


Oi gurizada!

Muito prazer. Eu sou a Biblió. É. De Uma Graça de Traça do Carlos Urbim. Sabem o que o meu pai disse antes de eu nascer? Que se eu tivesse uma irmã ela se chamaria Teca, Biblió-Teca. Ah, mas os meus irmãos são todos homens, e eu gosto mesmo é de Biblió, sabem por quê? Por que eu acho o acento no ó trisimpático.

Vocês sabem onde eu moro? Não? Eu moro na biblioteca infantil de uma velha escola. Lá tem livros maravilhosos, com histórias fantásticas e lindos desenhos. Tem uns bem grandes. E sabem quem mora lá também? Ahhhhhhh, o Tracinho, o meu namorado. Ele é a coisa mais querida. Sabem o que ele me dá de presente, além dos bilhetinhos de amor, é claro? Papeizinhos de bombom, com este barulhinho, roc-roc-roc-roc-roc, porque nós não roemos os livros que são úteis, principalmente para as crianças.

Ah, tem outra coisa. O meu autor, o Carlos Urbim, falou que eu sou uma traça triantenada porque sou gaúcha.

No início eu roia tudo que vinha pela frente, devorei coleções inteirinhas de contos de fadas, mas depois que eu percebi que livro traçado é livro inutilizado, eu nunca mais roí.

A minha mãe falou antes de morrer, que eu aprendi a ler e escrever com mais ou menos seis meses. Vocês não sabem como é, né? Vida de traça é diferente.

Ah, mas vou ter que contar para vocês uma coisa muito triste da minha vida. Eu não sei a minha idade. É. Não sei em que ano eu nasci e nem posso fazer o meu mapa astral. Sabem por quê? As minhas primas roeram toda a minha certidão de nascimento, que ficou igual a uma renda, parece um guardanapo de crochê.

E vocês? De onde vocês vêm? Vocês sabem que lugar é esse?

Vocês sabem quem morou aqui?


(A partir daqui, Biblió conta para as crianças sobre o poeta, sobre o Hotel Majestic e sobre a Casa de Cultura)




-Informações sobre o Hotel Majestic, a CCMQ e sobre o poeta

Mario Quintana teria completado 100 anos no último dia 30 de julho se estivesse vivo. Natural de Alegrete ele nasceu dia 30 de julho de 1906, no início do século passado. Essa casa foi construída em 1923. Aqui funcionou o Hotel Majestic. O poeta Mario Quintana foi o seu mais ilustre hóspede. Ele morou aqui nessa linda casa por 12 anos, de 1968 a 1980. Desde 1990 o antigo Hotel Majestic se tornou a atual Casa de Cultura Mario Quintana – CCMQ, que é o maior centro cultural do Rio Grande do Sul. Essa casa foi tombada pelo Patrimônio Artístico de Porto Alegre. Aqui na CCMQ funcionam as salas da Oficina de Arte Sapato Florido e o Museu do Brinquedo, a Biblioteca infantil Lucília Minssen, o Jardim Lutzenberger, o Café Concerto Majestic, o Café dos cataventos, o Acervo Elis Regina, o acervo Mario Quintana, o acervo do Hotel Majestic, Museu do Banrisul, a biblioteca Erico Verissimo e uma sala de leitura; a cinemateca Paulo Amorim (salas Eduardo Hirtz e Norberto Lubisco); o Instituto de Artes Visuais e as galerias de exposições Augusto Meyer, Xico Stokinger, Sotero Cosme e Virgílio Calegari), além do espaço Majestic e o espaço Vasco Prado, os teatros Bruno Kiefer e Carlos Carvalho; a discoteca pública Natho Henn; o Telecentro Solidário Mario Quintana, a sala Luiz Cosme, o espaço Elis Regina e A Rua dos Cataventos.


-Dorme, Ruazinha

Dorme, ruazinha... É tudo escuro...

E o meus passos, quem é que pode ouvi-los?

Dorme o teu sono sossegado e puro,

Com teus lampiões, cm teus jardins tranqüilos...


Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...

Nem guardas para acaso persegui-los...

Na noite alta, como sobre um muro,

As estrelinhas cantam como grilos...


O vento está dormindo na calçada,

O vento enovelou-se como um cão...

Dorme, ruazinha... Não há nada...


Só os meus passos... Mas tão leves são

Que até parecem, pela madrugada,

Os da minha futura assombração...



-Arquitetura Funcional

 

Não gosto da arquitetura nova

Porque a arquitetura nova no faz casas velhas

Não gosto das casas novas

Porque as casas novas não têm fantasmas

E, quando digo fantasmas, não quero dizer essas

assombrações vulgares


Que andam por aí...


A pena que me dão as crianças de hoje!

Vivem desencantadas como uns órfãos:

As suas casas não têm porões nem sótãos,

São umas pobres casas sem mistério.

Como pode nelas vir morar o sonho?


E as casas novas não têm ao menos aqueles longos,

Intermináveis corredores

Que a lua vinha às vezes assombrar!


2-Quarto do poeta

Perfil do poeta desde o seu nascimento na cidade do Alegrete.


-Imagem

O gato é preguiçoso como uma segunda-feira.



O Poeta

Mario Quintana nasceu num dia de muito frio, em Alegrete, que fica a 500 quilômetros aqui de Porto Alegre, e mais ou menos de 150 quilômetros da fronteira com a Argentina e com o Uruguai, fica na fronteira Oeste, de onde são os gaúchos do Pampa. A cidade é cortada pelo rio Ibirapuitã. O município de Alegrete tem o formato de um olho. Nessa região do pampa onde o Quintana nasceu tinha índios da tribo Charrua, que eram muito destemidos. O nome completo do poeta era Mario de Miranda Quintana. Filho caçula, ele tinha dois irmãos, a Marieta e o Milton. Com 7 anos, auxiliado pelos pais, aprendeu a ler tendo como cartilha o jornal Correio do Povo.  Com oito anos, em 1914, inicia seus estudos na Escola Elementar Mista de Dona Mimi Contino. Seu primeiro livro  A Rua dos Cataventos foi lançado em 1940 pela Editora Globo, quando ele tinha 34 anos. No decorrer de sua trajetória obtém ótima repercussão e seus sonetos figuraram em livros escolares e antologias. Apaixonado por Porto Alegre, cidade que foi sua grande fonte de inspiração, Mario Quintana consagrou-se como um dos maiores nomes da literatura nacional. Poeta e tradutor Quintana trabalhou na Editora Globo e no jornal Correio do Povo. Publicou muitos livros. Entre os livros para as crianças, estão O Batalhão das Letras, Pé de Pilão, Lili Inveta o Mundo, Sapo Amarelo e Sapato Furado. Para os adultos, entre outros, escreveu A Rua dos Cataventos, Canções, Caderno H e o Aprendiz de Feiticeiro.

Quintana era um anjo poeta/adorava filmes de terror/Falava como escrevia/Cheio de graça e humor.

Poeta do cotidiano, Quintana amava o seu ofício de escrever poemas e dizia que tudo que o poeta toca vira poesia. Erico Verissimo dizia que Quintana era um anjo disfarçado de homem. Às vezes quando se descuidava ao vestir o casaco suas asas ficavam de fora. Como o anjo, seu nome não é Mario. É Malaquias. Erico dizia também que Quintana era um mágico que fazia suas mágicas com palavras.

O poeta dizia que tinha nascido no tempo dos ventos, que tinha sido um menino doente por trás de uma janela. Muito divertido e espirituoso, no seu trabalho se dedicava muito à infância. Uma vez perguntaram para ele qual é a diferença entre o menino e o poeta e ele disse: nenhuma. Ele contava que começou a escrever logo que aprendeu a ler. E brincava que, decerto o poema não prestava, mas que o poema de um menino poeta é o melhor poema do mundo porque é o primeiro encontro de uma alma com a poesia. Ele dizia que era azul e que adorava ler o Tico-Tico, que foi a primeira revista de história em quadrinhos feita no Brasil, criada em 1905. Quintana era considerado feiticeiro e mágico. Adora caminhar pelas noites e dias, nas ruas de Porto Alegre. Quintana se considerava um cidadão do mundo. Ele escrevia a mão; com lápis e com caneta esferográfica. Dizia que não sabia pensar a máquina. Espalhava sobre a mesa canetas de todas as cores. Adorava escrever com caneta verde. E vermelha também. Com o queixo apoiado na mão esquerda, passava a limpo na máquina com um dedo só da mão direita. Nunca chegou a escrever no computador. Ele contava que, às vezes olhava distraído para as copas das árvores da Praça da Alfândega. Recatado e íntimo, adorava café preto e quindim. Gostava de fumar e de casas bem altas. Ele detestava algumas coisas práticas da vida como filas de bancos e preencher formulários.... Era amigo de pessoas muito simples e dos poetas e escritores Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Erico Verissimo, Josué Guimarães, Bruna Lombardi e Armindo Trevisan. Cecília Meireles e Bruna Lombardi, além de suas grandes amigas foram suas musas inspiradoras. E das fotógrafas Dulce Helfer e Liane Neves. Cheio de humor, ele dizia que a Elena Quintana, a sua sobrinha que sempre lhe foi muito fiel, era o seu braço esquerdo. Dizia que ser poeta é uma maneira de ser. Afirmava que os leitores também são poetas.

Poeta do cotidiano, Quintana tinha a personalidade muito forte. Era simples e profundo. Lírico, fazia seus poemas com a alma.

-Poeminha do contra

Todos esses aí que estão

Atravancando o meu caminho

Eles passarão

Eu passarinho!


3-Terraço (7º andar)

 

-Cidadezinha

Cidadezinha cheia de Graça...

Tão pequenina que até causa dó!

Com seus burricos a pastar na praça...

Sua igrejinha de uma torre só...


-As Pulgas

As pulgas saltam tanto porque também têm pulgas.


-Ó céus de Porto Alegre,

Como farei para levar-vos para o Céu?!


O Mapa


Olho o mapa da cidade

Como quem examinasse a anatomia de um corpo...


(É nem que fosse o meu próprio corpo!)


Sinto uma dor infinita

Das ruas de Porto Alegre

Onde jamais passarei...


Há tanta esquina esquisita,

Tanta nuança de paredes,

Há tanta moça bonita

Nas ruas que não andei

(E há uma rua encantada

Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,

Poeira ou folha levada

No vento da madrugada,

Serei um pouco do nada

Invisível, delicioso


Que faz com que o teu ar

Pareça mais um olhar,

Suave mistério amoroso,

Cidade de meu andar

(Deste já tão longo andar!)


E talvez de meu repouso...



4-Jardim Lutzenberger


Canção de Inverno

“Pinhão quentinho!

Quentinho o pinhão””

(Eu bem juntinho

Do meu coração...)


Outono

É uma borboleta amarela? Ou a folha que se desprendeu e quer não quer tombar?


-Canção da Primavera


Primavera cruza o rio

Cruza o sonho que tu sonhas.

Na cidade adormecida

Primavera vem chegando.


Cata-vento enloqueceu,

Ficou girando, girando.

Em torno do cata-vento

Dancemos todos em bando


Dancemos todos, dancemos,

Amadas, Mortos, Amigos

Dancemos todos até

Não mais saber-se o motivo...


Até que as paineiras tenham

Por sobre os muros florido!


-Botânica

A verdadeira couve-flor é a hortência.


-Canção da Garoa

Em cima do meu telhado,

Pirulin lulin lulin,

Um anjo, todo molhado,

Soluça no seu flautim.


Relógio vai bater:

As molas rangem sem fim.

O retrato na parede

Fica olhando para mim.


E chove sem saber por quê...

E tudo foi sempre assim!

Parece que vou sofrer:

Pirulin lulin lulin...


5- Biblioteca Lúcília Minssen


-Os verdadeiros analfabetos foram aqueles que aprenderam a ler e não leem.


-Dupla Delícia

O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.


 

O pato ganhou sapato,

Foi logo tirar retrato.


O macaco retratista

Era mesmo um grande artista.



-Poeminha Chuvoso

Uma velhinha por trás da vidraça

Jogando paciência com a chuva que cai...



-Elegia Urbana

Rádios. Tevês.

Gooooooooooooooooooolo!!!

(O domingo é um cachorro escondido debaixo da cama).



-Soneto VIII

Recordo ainda... E nada mais me importa...

Aqueles dias de uma luz tão mansa

Que me deixavam , sempre, de lembrança,

Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de desesperança

Soprando cinzas pela noite morta!

E eu pendurei na galharia torta

Todos os meus brinquedos de criança...


Estrada afora após segui... Mas, ai,

Embora idade e senso eu aparente,

Não vos iluda o velho que aqui vai:


Eu quero os meus brinquedos novamente!

Sou um pobre menino.... acreditai...

Que envelheceu, um dia, de repente!...



6-Acervo do Poeta


Mario Quintana faleceu em Porto Alegre no dia cinco de maio de 1994, aos 87 anos.

Foi imortalizado por essa Casa de Cultura que leva o seu nome. Justa homenagem. Era apaixonado por Porto Alegre, cidade que escolheu para viver.

-Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... Ora!

Não é motivo para não querê-las

Tristes seriam os caminhos

Se não fora a mágica presença das estrelas!

-Camuflagem

A esperança é um urubu pintado de verde.


-Madrigal

As velhinhas bonitas são passas de uva.


-Algumas Variações Sobre Um Mesmo tema

I

As vacas voam sempre devagar

Porque elas gostam da paisagem.

Porque, para elas, o encanto único de uma viagem

É olhar, olhar...


II

Partir... tão bom! Mas para que chegar?



-Noturno Arrabaleiro


Os grilos... Os grilos... Meu Deus, se a gente

Pudesse

Puxar

Por uma

Perna

Um só

Grilo,

Se desfiariam todas as estrelas!


-Encerramento:

Lili Inventa o Mundo

Epígrafe do livro

 

As pessoas sem imaginação

Podem ter tido as mais

Imprevistas aventuras, podem

Ter visitado as terras mais

estranhas. Nada lhes ficou. Nada

lhes sobrou. Uma vida não basta

apenas ser vivida: também

precisa ser sonhada.